Já no aquecimento, um show de controle
e precisão. A
habilidade com a bola impressiona.
Brinca de arremessar. De costas, de frente, com efeito.
Com
e sem o auxílio da tabela. Os
braços de polvo se multiplicam. E no apito do
árbitro,
que dá início ao jogo, a cadeira de rodas
do baiano Manoel Bento, 32 anos, um dos melhores
jogadores de basquete adaptado do Brasil,
desliza soberana pela quadra. Testemunhar uma
partida
em que ele faça parte é mais do que
um privilégio. É uma benção. A prova maior de
que não
existem paratletas, mas sim atletas.
Sem prefixos, sem cerimônias, por inteiro. Espetáculo?
Não, o jogo é sério. Decisão do
campeonato Pernambucano, contra a, ADDF/PE. E
não é só de fazer cestas que Manoel vive.
Jogador completo marca como ninguém. Cobre
todos os
espaços da quadra. Faz assistências.
Muitas. Descobre espaços onde parece não
existirem. Mas
a derrota vem por míseros dois pontos
de diferença -
52 a 50 - mesmo com todo o
esforço desse
talento. E a medalha de prata,
entregue na cerimônia de premiação, não parece
confortável. Mas o sorriso está lá, estampado.
De bem com a vida e a sensação de ter tentado
de tudo.
E uma certeza. "Em 2013, será
diferente", diz o
baiano de Dario Meira.
O que causou a
deficiência física?
Quando eu tinha três meses, minha mãe
percebeu que eu
não mais mexia a perna me levou ao
médico e foi constatado que era a sequela
de poliomielite (paralisia infantil).
Como foi à
adaptação?
Eu era uma criança e não tinha escolhas.
Era viver ou
viver. Sempre fui apaixonado por esportes
e música. A paralisia infantil não tirou isso
de mim.
Continuei com os meus sonhos. Comecei a
praticar o basquete em cadeira de rodas, com 18 anos de
idade.
Como foi a construção da carreira?
Temos
várias competições no
Brasil. Comecei
defendendo o time do Recife, Leões Sobre Rodas, em
1998. Os resultados começaram a aparecer e depois
de alguns anos passei a defender o time da ADDF/PE
e mais tarde
a AAPD/PB, de uma liga
semiprofissional. Fui estudar na cidade de João
Pessoa PB, ganhei ainda mais experiência. A primeira
convocação para defender a seleção foi em 2000.
Recebi convites para jogar em São Paulo, Rio de
Janeiro na Argentina e Venezuela, e não
fui por
motivos familiares.
O que você
ganhou pela seleção brasileira?
Fomos vice-campeões mundiais em Blumenau SC, em
2000, e no
Japão, 2004, além de campeões do SulAmericano.
Qual o segredo desse sucesso?
Acredito serem dois fatores conjugados.
A qualidade de
treinamento que os leões nos ofereciam era
fantástica. Temos apoio do governo,
instituições e
patrocinadores. Os atletas com deficiência
hoje estão
sendo valorizados no
Brasil, não só pela
comunidade esportiva, mas pela sociedade como um
todo. E a
química do grupo. Tenho companheiros de
seleção com dez
anos de convivência. Somos amigos, nos ajudamos
dentro e fora da quadra. E estamos passando por
um
processo de renovação. Os mais novos são bem
recebidos, não existem estrelas. É possível perceber
isso em quadra, não é?
Qual a carga horária de treinamentos?
Agora que eu estou ficando velho (risos), treino quatro
vezes por semana. Mas antes, treinava exaustivamente
todos os dias, sem interrupções. Além disso, pratico
outros esportes, como o
halterofilismo e o atletismo
adaptado. Amo
esporte. Tudo isso ajuda no
condicionamento físico que hoje não é dos melhores.
Vamos intensificar os treinamentos ano que vem,
porque quero mais um título Brasileiro.
Qual a sua expectativa?
A melhor possível. Sabemos que vamos ter adversários
fortíssimos, mas o time não é um espelho fiel do que
vai à
competições em 2013. Algumas experiências
foram feitas. Consideramos este campeonato uma
importante etapa de preparação para os próximos
anos.
E a sua outra paixão, a música?
Pois é. Gosto
muito da música. Tanto que vou recomeçar a estudar violão, voltar a ser estudante. Estou
focado nisso agora. Tenho que conciliar com a próxima
paraolimpíada, mas gostaria muito de ser
um bom
guitarrista. Seria a realização de mais um sonho.
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